quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ação terapêutica da ayahuasca divide opiniões de especialistas

São Paulo, 25 (AE) - Há argumentos e argumentadores de peso para os dois lados da questão: aqueles que apostam na ação terapêutica da ayahuasca - também chamada de hoasca e vegetal - e os que defendem os riscos que ela, usada por várias linhas religiosas no Brasil, poderia provocar à saúde. "É uma substância com propriedades alucinógenas, que promove mudanças químicas no cérebro, levando a distorções no sistema senso perceptivo do indivíduo, ou seja, na capacidade de sentir, ouvir, ver", explica o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo e PhD em Dependência Química. "É complicado afirmar que um alucinógeno é completamente inócuo para o cérebro."

As alucinações desencadeadas pelo chá - que no ambiente religioso são chamadas de mirações e têm o objetivo de promover o autoconhecimento - se devem à ação da dimetiltriptamina (DMT), substância presente nas folhas da chacrona, um das plantas do chá. "A hoasca, assim como a maioria de outros alucinógenos, como LSD e ecstasy, não tem grande risco de dependência. O problema é o risco de dano cerebral associado, já que se trata de uma substância que desregula o cérebro", comenta Laranjeira. "É muito difícil dimensionar qual é o efeito disso mediante um uso crônico ou em pessoas predispostas a desenvolver quadros mentais, como é o caso de filhos de pais com esquizofrenia."

A interação entre os efeitos provocados pela hoasca e outros elementos que interferem na química cerebral, como os quadros psiquiátricos, veio à tona no último dia 12, quando o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes - que tem histórico de esquizofrenia na família e, além de ingerir hoasca, era consumidor de drogas - assassinou o cartunista Glauco Villas Boas. "Nem sempre uma predisposição genética para quadros psiquiátricos é tão facilmente reconhecida. E também não é possível mensurar qual será o grau de suscetibilidade de cada um à substância", diz. Para Laranjeira, o consumo seria contraindicado sobretudo para as crianças.

Em janeiro passado, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) publicou no "Diário Oficial" a regulamentação para o uso da ayahuasca no Brasil com fins ritualísticos, inclusive por crianças. Em algumas comunidades há batismos de bebês com o vegetal, ministrado em conta-gotas. "Para mim, não deveria ser permitido em crianças. Nelas, o ideal é se evitar ao máximo qualquer substância diferente, até mesmo medicamentos, para minimizar o risco de intoxicação. Em uma vida psíquica se cristalizando, é difícil saber as consequências", declara o médico Elisaldo de Araújo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas. "A liberação, contudo, baseou-se em estudos com crianças que usavam a hoasca. Constatou-se que não havia alterações importantes entre elas", conta.

Apesar de ver com cautela o uso da hoasca por crianças, o profissional não contra-indica a prática dos rituais com o chá. "Tudo depende do meio em que se toma. Em um círculo religioso, pressupomos que haverá gente experiente orientando e controlando os rumos das alucinações."
Carlini desaconselha a hoasca por pessoas com limitações de saúde. "Quem tem problema cardíaco deve evitar", diz. Para ele, interações com alguns remédios também devem ser vetadas. "A hoasca pode inibir o efeito dos hipnóticos, usados contra insônia", completa.


O pesquisador Rafael Guimarães dos Santos, doutorando em farmacologia pela Universidade Autônoma de Barcelona, com ênfase nos efeitos da ayahuasca, pede cautela para quem usa antidepressivos que inibem a enzima monoamina oxidase (MAO) - efeito que o chá também produz. "Ao inibir a MAO, que controla os níveis de serotonina, a quantidade desta substância aumenta. Se a pessoa ingerir o chá e também o remédio, o nível de serotonina poderá subir demais, levando à síndrome serotoninérgica, com tremores, agitação e até mesmo morte", relata.

Santos diz que a interação do chá com a substância tiramina também é problemática. "Esta substância, encontrada em alimentos envelhecidos, como vinho tinto e alguns tipos de queijo, é degradada pela MAO. Com a inibição da enzima, a tiramina pode se acumular no corpo, levando à hipertensão", explica. Segundo ele, "não existem evidências científicas de que o chá possa ser usado com fins terapêuticos, embora muitos usuários defendam este uso".


Diretor do Departamento Médico da União do Vegetal, uma das linhas religiosas ligadas à hoasca, o médico José Roberto Souza é contrário à 'medicalização' do chá. "Nosso objetivo é o uso no ritual e não se pode afirmar que as melhorias de saúde nos praticantes se devem às propriedades bioquímicas do chá. É o envolvimento com a doutrina, a mudança de paradigmas com relação aos hábitos de vida, deixando o álcool e o fumo, que trazem os benefícios para a saúde", diz.

O QUE DIZ A MEDICINA

Pessoas que sofrem de hipertensão ou que apresentem problemas cardiovasculares não devem fazer uso do chá porque ele pode desencadear taquicardia e alterações de pressão:

- Indivíduos que tenham passado por transtornos mentais ou que tenham uma predisposição conhecida para este tipo de quadro (filhos de pais esquizofrênicos, por exemplo) não devem usar o chá porque ele, ao provocar alucinações, age sobre o sistema de senso percepção cerebral, que é um mecanismo afetado em vários tipos de transtornos psiquiátricos;
- A administração do chá em crianças é admitida pelo Conad, embora seja alvo de crítica por parte de alguns médicos. Parte deles afirma que não há estudos que comprovem o comprometimento cerebral em crianças usuárias do chá, outros alegam que promover efeitos psicoativos em cérebros ainda em formação é arriscado.


O QUE DIZ O CONAD

O chá deve ter uso restrito a rituais religiosos e está vedada sua associação a substâncias psicoativas ilícitas - como crack e LSD, por exemplo:

- O processo de produção, armazenamento, distribuição e consumo da ayahuasca não pode estar associado à comercialização das espécies usadas no chá;
- As entidades religiosas devem aplicar entrevistas a novos integrantes e evitar que o chá seja dado a pessoas com histórico de transtornos mentais, bem como a indivíduos sob o efeito de bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas;
- O uso da ayahuasca pressupõe que a extração das espécies vegetais busque a autossustentabilidade, desenvolvendo cultivo próprio e evitando a depredação de espécies florestais nativas;


Fonte: Disponível em http://www.uniad.org.br, acessado em 04/04/2010.

“Dependência de drogas acontece pelo livre acesso.Por isso sou contra a legalização.”(Dra. Nora Volkow)

Ela utiliza tomografia cerebral para investigar os efeitos tóxicos das drogas. E afirma: “A dependência é uma doença crônica no cérebro humano.” Declaração da psiquiatra Nora Volkow , eleita recentemente pela revista ‘Time “como uma das cem pessoas mais influentes do mundo”. Ela enfatiza: “Drogas causam doença grave. Por isso sou contra a legalização das drogas.Não é questão ideológica. É epidemiológica.”

Diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (Nida) dos EUA, a dra. Nora Volkow afirma que a dependência de substâncias químicas afeta uma região do cérebro chamada córtex orbitofrontal, responsável pela tomada de decisões. “Essas pessoas perdem o livre arbítrio para dizer não”. A especialista explicou, ontem ,em São Paulo a 400 profissionais de saúde , reunidos na Universidade Federal de São Paulo , os resultados das pesquisa que realiza nos EUA sobre as alterações no cérebro causadas pelo dependência química. Ela alertou: “Na infância e na adolescência, o cérebro é muito plástico [fácil de ser ‘modelado’]. isso é bom para o aprendizado, mas ao mesmo tempo ajuda a pessoa a se tornar dependente de drogas.”

Enfática, criticou proposta de legalização das drogas: “A dependência acontece pelo acesso livre às drogas, e por isso sou contra a legalização. Hoje os maiores vícios que temos são álcool e nicotina, não porque são as drogas que causam mais dependência, mas porque são as mais disponíveis. Não é uma questão ideológica. É uma questão epidemiológica. ”

Fonte: Disponivel em http://www.uniad.org.br, acessado em 7/4/2010. Jovem Pan - Izilda Alves