quarta-feira, 2 de junho de 2010

CRACK EM DISCUSSÃO NO SENADO FEDERAL

Senadores travaram um acirrado debate anteontem sobre a ausência repasse de verbas do governo federal para os centros de recuperação de usuários de drogas em todo o Brasil, fator que vem sendo apontado pela oposição como o principal entrave no tratamento das vítimas do crack, da maconha e da cocaína.

Por meio de audiência pública, o Senado Federal debateu o avanço e os riscos do consumo do crack pelo país afora, sobretudo nos grandes centros nacionais onde a droga que tem um elevado poder de destruição do ser humano está ocupando cada vez mais espaço. O fato é que a sociedade brasileira, que até poucos anos atrás se preocupava em prevenir o envolvimento das suas crianças, adolescentes e jovens com drogas lícitas como cigarro e bebidas alcoólicas, bem como drogas ilícitas como maconha, ácidos e cocaína, agora está perdendo o sono com um droga avassaladora, de alto poder destrutivo e inimaginável potencial para viciar.

O crack exige uma postura mais firme do governo federal, ou seja, não adianta realizar campanha de conscientização na TV, no rádio e nos jornais se o problema não for tratado de frente.

O senador Flávio Arns aproveitou a audiência para lembrar que os centros de recuperação de usuários de drogas sobrevivem graças ao pouco repasse das prefeituras e, sobretudo, ao envolvimento da sociedade em promoções de arrecadação de recursos, ou seja, o governo federal não destina um único centavo a esses centros de tratamento, mas gasta centenas de milhões de reais em campanhas publicitárias para tentar alertar as pessoas sobre os perigos que o crack oferece.

Enquanto isso, o crack - que é uma mistura de cocaína em forma de pasta não refinada com bicarbonato de sódio – já faz parte do cotidiano das pequenas cidades brasileiras e está desestruturando famílias inteiras de Norte a Sul do Brasil.

Tanto que o Relatório Mundial sobre Drogas, elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), aponta que as apreensões de crack triplicaram num intervalo de um ano no Brasil. O crack virou a vedete dos traficantes e as autoridades governamentais não estão conseguindo barrar o avanço dessa droga violenta e barata sobre as famílias brasileiras.

A senadora Rosalba Ciarlini, vice-presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Crack, afirma que apenas as prefeituras fazem a parte delas, enquanto os governos estaduais e, principalmente a União, adotam uma postura de total descaso diante desta droga.

O crack se apresenta na forma de pequenas pedras e pode ser até cinco vezes mais potente do que a cocaína, provoca efeito alucinante que dura, em média, dez minutos. A sensação de prazer inicial é seguida por uma profunda depressão, mas o pior ainda estar por vir: como a principal forma de consumo é a inalação da fumaça produzida quando a pedra é queimada, os pulmões conseguem absorver quase 100% do crack inalado, provocando a atrofia e desencadeando uma série de doenças como hiperatividade, insônia, perda da sensação de cansaço, perda de apetite e consequente perda de peso e desnutrição.

Por tudo isso, a audiência pública realizada no Senado Federal terá a importante missão de apontar um caminho no tratamento dos dependentes desta droga.

O descaso do governo federal com a problemática do crack é tão acentuado que a Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal já decidiu cobrar do Ministério da Saúde informações sobre a atuação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em relação aos usuários de drogas.

A sugestão é para que os dependentes químicos passem a ser tratados como usuários de droga e não como doentes mentais, como ocorre hoje na maioria dos CAPS. O problema é tão grave que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal decidiu criar uma subcomissão para examinar medidas que contribuam para o enfrentamento do problema do tráfico e do consumo de drogas no País, em especial, o avanço do crack.

Mas não basta o Congresso Nacional debater essa questão se os organismos governamentais não fizerem a parte que lhes cabe, ou seja, definir formas eficientes de combate ao tráfico e oportunizar tratamento adequado para aqueles que já foram transformados em reféns do vício.

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