terça-feira, 7 de setembro de 2010

FAZ DE CONTA NÃO TIRA CRACK DAS RUAS

O Ministério da Saúde estima em 600 mil os usuários de crack no país. Pelo que se vê pelas ruas e praças de cidades grandes, médias e pequenas, pela penetração inclusive nas zonas rurais e na população indígena, o número deve estar subestimado. É frustrante que, embora colocada na pauta de prioridade do governo federal, a droga continue se disseminando de forma devastadora, tendo se banalizado.

Pudera! A primeira cracolândia brasileira, surgida no centro da capital paulista no fim da década de 1980, continua lá. Este ano, numa única operação, mais de três dezenas de supostos traficantes foram indiciados e três centenas de viciados, detidos. Mas o tristemente famoso quadrilátero da mais populosa e rica megalópole nacional ainda abriga trastes humanos que, como zumbis, circulam com suas pedras e cachimbos, podendo ser vistos a qualquer dia ou hora.

Basta de faz de conta e de pirotecnias. A repressão pura e simples produz espetáculo, mas não resolve o problema. Da mesma forma, o solene anúncio de planos de ação que não saem do papel, a indignação que não vai além do discurso. O presidente da República já qualificou a droga como praga e prometeu “jogar duro” contra ela. No ano passado, lançou um programa. Este ano, outro. Sem resultados efetivos a exibir, pode-se dizer que, antes de somar, a segunda iniciativa apenas encobre, como um manto, o fracasso da primeira.

Instado a comparar os dois conjuntos de medidas, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Armando Félix, em vez de apontar diferenças, classificou a segunda tentativa de “intensificação de esforços”. Que isso não signifique dobrar ou quintuplicar o nada. Barato e de alto poder de vício e destruição, o crack já rompeu todas as fronteiras. Antes restrito ao circuito dos marginalizados, hoje é objeto de desejo em qualquer classe social.

A fissura que a droga provoca é intensa e rápida. Por ela, rouba-se, mata-se, prostitui-se. Relacionamentos não resistem a ela. Toda a sociedade é afetada. Um beco tomado por usuários logo contamina o quarteirão, o bairro, a cidade. Recente em Brasília, apareceu nas redondezas da Rodoviária do Plano Piloto, passou a assustar moradores da Asa Norte e já é realidade em todo o Distrito Federal e entorno.

Sem coordenação efetiva dos poderes públicos — em nível federal, estadual e municipal —, com suas respectivas áreas de repressão, assistência e atendimento médico e psicossocial, o muito pouco que poderá ser feito não deterá o avanço da destruição protagonizada pelo crack. E é preciso ser realista: nem o controle do tráfico nas fronteiras nem a capacitação do Sistema Único de Saúde ocorrerão da noite para o dia. Tampouco a necessária conscientização da sociedade com intensas campanhas preventivas. O desafio é gigantesco e urgente. Mas o cidadão precisa começar a acreditar no engajamento e empenho das autoridades. Ou seja: não dá para falhar mais.

Fonte: Opinião. Visão do Correio. Correio Brasiliense. 7/set/2010.

2 comentários:

  1. O problemas das drogas no Brasil e no mundo, só irão diminuir quando cada cidadão começar a entender que este problema não é só das autoridades, mas sim de cada um de nós.

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  2. É verdade. Uma simples verdade.

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